A "acessibilidade" é um atributo essencial do ambiente que garante a melhoria da qualidade de vida das pessoas com deficiência. Apesar da sua grande relevância, este é um tema pouco difundido. O Abrindo a Cabeça sempre se preocupou com o tema de acessibilidade. Desde o início, nossas publicações, sempre que possível abordam, a temática. Em todos os locais que temos informações, colocamos um tópico. Inclusive na série "Cabeça na Copa do Mundo (post aqui). Em todas as entrevistas, perguntamos para as pessoas sobre como é acessibilidade nos diversos países.
Mas, e no Brasil? E a acessibilidade nas cidades? E a questão da acessibilidade no turismo? Para falarmos sobre este tema convidamos a estudante de Letras, Ana Santiago para falar sobre o assunto. Ana, nasceu prematura, o que causou uma espécie de má formação da sua retina, que ao longo dos anos foi comprometendo mais ainda sua visão.
Porém, isto não impediu, a paranaense de seguir com seus planos e sonhos, e inclusive mudar de cidade. Atualmente, Ana mora em Florianópolis onde faz faculdade. "Nasci de 6 meses, o que causou uma espécie de má formação da retina. Fiquei com 5% de visão em um olho e nada no outro, até que, em decorrência de um glaucoma, perdi. Hoje vejo vultos, luzes e umas coisas aleatórias (risos). Curso letras - português e amo linguística, livros, natureza, aventura e mais um universo de coisas, inclusive escrever", conta.
#Pracegover: Foto colorida. Mulher em pé (Ana), em primeiro plano, em cima de um moro. No chão, grama e algumas pedras. Mulher Vestida com blusa preta e short rosa. Ela está com os braços abertos, cabelos presos e sorrindo. Ao fundo aparece o mar e um pedaço da praia, ao fundo o céu com algumas nuvens, montanhas e um pouco da cidade.
Essa paixão por escrever deu origem a um blog, o "Lugares que Transformam" (link aqui), no qual ela escreve sobre suas experiências de viagens, trilhas e aventuras. "Surgiu como um incentivo para eu mesma conhecer mais lugares e, sobretudo, da minha paixão por experimentar, sair, conhecer pessoas e fazer novas coisas. Claro que também nasce da minha vontade de escrever cada vez mais e falar sobre acessibilidade nos lugares e experiências, de como é estar nesses lugares sendo pessoa com deficiência e que as dificuldades são, exatamente, porque os próprios espaços se configuram excluindo muitas pessoas. Enfim, a vontade de compartilhar tudo isso e sair realizando cada vez mais sonhos por esse mundo", expôs Ana.
#Pracegover: Logo colorido, composto por uma montanha de três picos ao fundo, sendo a do meio maior e as dos lados menores. Logo a frente tem um balão a ar listrado em vermelho e azul e uma cesta de vime. Logo abaixo está escrito Lugares que Transformam, em letra de mão, no mesmo tom de azul do balão e com um traçado preto em volta.
De acordo com Ana, as pessoas com deficiência estão amparadas por leis muito boas, como a Lei Brasileira de Inclusão (LBI). Porém, é necessário, uma contínuo luta para efetivação dos direitos das pessoas com deficiência. "Acredito que as barreiras são tanto arquitetônicas, calçadas ruins, etc, quanto informacionais, falta de conteúdo acessível em geral e, principalmente, atitudinais. O capacitismo (preconceito social contra pessoas com qualquer tipo de deficiência), a discriminação contra as pessoas com deficiência, é extremamente naturalizado e muito comum, mesmo e especialmente nas pequenas coisas do dia a dia", destacou.
A estudante aponta que algumas melhorias tem acontecido nos últimos tempos, principalmente, pelo fato das pessoas com deficiência estarem mais ativas nas lutas pelos seus direitos. Ana acredita que de um modo geral, a população respeita as vagas destinadas para pessoas com deficiência e os lugares em transporte público. Porém ela faz um alerta com relação essa situação. "É preciso pensar em como se configura esse respeito que, muitas vezes, vem através da ideia que somos exemplos de superação, heróis ou coitadinhos. De que a deficiência vem sempre primeiro é e definidora das nossas vidas. Queremos ser respeitados como pessoas singulares que somos", ressaltou.
COTIDIANO
Perguntei a Ana sobre como é a questão da acessibilidade na cidade que ela vive atualmente (Florianópolis). Infelizmente, de acordo com o relato dela faltam muitos instrumentos e equipamentos para tornar a cidade acessível. "Eu ando sozinha, mas é bastante difícil, às vezes. Faltam pisos guia, as calçadas são péssimas, carros estacionados no caminho, muitos obstáculos, etc. Felizmente, as pessoas ajudam bastante", concluiu.
VIAGENS:
A nossa amiga contou que já deixou de visitar algum destino turístico que tinha interesse, por conta de alguns fatores como falta de informação, ou um guia qualificado que aceite fazer um tour. "No meu caso especificamente, para um passeio simples pelo centro histórico de alguma cidade, por exemplo, que pessoas sem deficiência podem fazer sozinhas, eu provavelmente já precisaria de um guia. Além disso, questões de acessibilidade informacional, como falta de passeios com audiodescrição, museus com exposições acessíveis, etc. Mas, acho que mais forte que essas coisas, ainda é a questão atitudinal que mais pesa. Eu gosto muito de natureza, trilhas e esportes de aventura e ainda é muito difícil encontrar profissionais que aceitem guiar em uma trilha, fazer rapel, etc. Ou, até mesmo guiar em passeios simples, por receio. Mas, aos poucos, vamos chegando lá", projetou.
#LugaresDescritos Foto colorida. Mulher de pé sorrindo com os cabelos presos. Vestindo bota de trilha , casaco corta vento vermelho e calça cinza. Ao fundo uma cachoeira e algumas árvores nas laterais.
Antes de viajar, Ana faz uma vasta procura na internet sobre informações dos lugares que pretende visitar. Isto é um fator que facilita suas viagens. "Sou a louca do Google por natureza, aquelas pessoas que vão até a página 10. Eu pesquiso muito sobre os lugares, passeios, agências. Acho que em relação à acessibilidade, não tenho uma fonte fixa, mas procuro relatos de amigos, blogs, etc. Eu penso bastante sobre questões como o tipo de passeios que estarão disponíveis, assim como a possibilidade de encontrar guias, fechar pacotes com deslocamento incluído, etc. Claro que se tiver melhor acessibilidade, é um bônus (que não deveria ser considerado bônus) importante", concluiu.
RECOMENDAÇÕES DA ANA:
Pedi a Ana algumas recomendações para as pessoas com deficiência que tenham desejo de viajar mais. "Eu também estou aprendendo ainda, estou começando a me planejar para viajar mais recentemente. Então, acho que pesquisar bastante, ligar antes para alguns lugares, como agências de turismo e etc.", recomenda.
Como nossa amiga aventureira ainda está começando sua jornada de viagens, ela não fez uma lista de lugares que consideram ter uma boa estrutura que garanta a acessibilidade. Todavia, ela indicou o "Hotel Campo dos Sonhos" em Socorro -SP. De acordo com ela, o hotel mais acessível do Brasil (inclusive em breve terá post no "Lugares que Transformam" sobre o lugar).
MENSAGEM:
Ao final da entrevista, pedi para Ana deixar uma mensagem para aquelas pessoas com deficiência que gostaria de viajar mais, porém que por algum motivo tem receio. "Pode parecer difícil e, às vezes, vai ser. Mas vale a pena, nós podemos. Planeje da melhor forma e vá. Vamos ocupar todos os espaços que quisermos e, principalmente, vamos exigir o direito de querer. Problemas sempre vão existir, mas nós damos um jeito. As pessoas podem ser muito mais incríveis que imaginamos e, em geral, elas ajudam muito".
#Pracegover: Foto colorida. Mulher sentada na água, na beira da praia, de frente para a foto. Ela está sentada em cima de uma das pernas e a outra está dobrada. Uma de suas mãos está apoiada no joelho e a outra na areia do fundo do mar. Vestindo a lycra da Associação Surf Sem Fronteiras, preta com as mangas longas e coloridas. Ela está com os cabelos presos e sorrindo. Ao fundo, espuma de uma onda vindo, pessoas no mar, alguns morros e o céu com poucas nuvens.
Se você quiser saber mais sobre o projeto da Ana. Segue os contatos:
FACEBOOK/ lugaresquetransformam/
INSTAGRAM: @lugaresquetransformam
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